domingo, 27 de janeiro de 2013

A origem do nome

Regionalmente são chamados "Mawés".
No entanto, ao longo da sua história já receberam vários nomes, dados por cronistas e missionários. 
Autodenominam-se Sateré Mawé. O primeiro nome  - Sateré, significa "lagarta de fogo", referência ao clã mais importante dos que compõem esta sociedade. O segundo nome - Mawé, significa "papagaio inteligente e curioso".

Localização

Os Sateré Mawé habitam a região  média do  Rio Amazonas, em duas Terras Indígenas: uma no estado do Amazonas e outra na divisão deste com o Pará.

Língua

A língua Sateré-Mawé integra o tronco linguístico Tupi. Segundo o etnógrafo Curt Nimuendaju (1948), ela difere do Guarani-Tupinambá. Os pronomes concordam perfeitamente com a língua Curuaya-Munduruku, e a gramática, ao que tudo indica, é Tupi. O vocabulário Mawé contém elementos completamente estranhos ao Tupi, mas não pode ser relacionado a nenhuma outra família linguística. Desde o século XVIII, seu repertório incorporou numerosas palavras da língua geral.
Atualmente os homens são bilingues, falando o Sateré-Mawé e o português do Brasil. No entanto, a maioria das mulheres, apesar de três séculos de contacto com os brancos, só fala a língua Sateré-Mawé. 

Demografia


Em 1987, existiam 4.710 Sateré-Mawé, segundo os dados da Funai. Desde 1981 houve uma expansão demográfica do grupo. Dados mais recentes da Funasa  e da ONG Ameríndia Cooperação dão conta de um total de 3.872 habitantes na área Andirá e 3.078 habitantes na área Marau. Em 1999, o total da população Satere-Mawé era portanto de 6.950 pessoas.

Organização social e económica


Os Sateré-Mawé habitam, como já foi referido,na região média do rio Amazonas. Nesses espaços, cada família elementar possui a sua residência, na qual se encontra o fogo que serve tanto para preparar a comida, como para aquecer e reunir os moradores; a cozinha, construída a meio caminho entre a casa e o rio, onde os homens torram o guaraná e as mulheres preparam a farinha de mandioca; e, também, o porto, como é conhecido o local às margens dos rios, onde a família toma banho, lava a roupa, deixa a mandioca de molho, lava o guaraná e ancora as suas canoas.
Os Sateré-Mawé são organizados sob a autoridade do chefe da família extensa, que aí reside com as famílias dos seus filhos e os seus netos. O chefe da família extensa organiza a produção do sítio, orientando as atividades econômicas dos seus filhos e genros.
Os sítios são um domínio privado, onde a terra e os demais recursos da natureza são apropriados pelas famílias elementares, que se submetem à autoridade do chefe do grupo familiar, tradicionalmente reconhecido como o dono do lugar.
Assim, o sítio é o grupo local, funcionando como unidade básica da organização política e económica dos Sateré-Mawé, podendo vir a transformar-se em aldeia quando o número de famílias elementares aumenta ou quando, independentemente disto, o seu chefe passa a ser visto como um “tuxaua”.
Atualmente, a maior parte das aldeias obedece ao traçado de um arruado, semelhante aos povoados da região. Aí, encontramos as residências das famílias elementares, as cozinhas, os portos, igrejas de diferentes congregações, a escola e enfermaria. Nos arredores das aldeias localizam-se as roças de mandioca, os guaranazais, os pomares e demais plantações, que pertencem a cada família elementar.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Organização política


Toda aldeia possui um “tuxaua”, o chefe do lugar, pessoa que está investida de autoridade para resolver desavenças e conflitos internos, convocar reuniões, marcar festas e rituais, orientar as atividades agrícolas, mandar construir casas etc. Cabe ainda ao “tuxaua” hospedar os visitantes demonstrando a sua generosidade e procedendo à função cerimonial de oferecer çapó (guaraná em bastão ralado na água), bebida cotidiana, ritual e religiosa, que é consumida em grandes quantidades.
Ao “tuxaua”, como a qualquer chefe de família extensa, compete também administrar os interesses de sua própria família, responsabilidade que ele assume de modo incisivo, principalmente quando se trata de solucionar desavenças e determinar as atividades agrícolas e comerciais. Ele também administra os interesses das outras famílias extensas e elementares que aí residem, mas nesse caso, fá-lo de forma mais flexível. Deste modo, é possível dizer que a unidade mínima constitutiva da aldeia é sempre a família extensa do “tuxaua”. 

Há lugar na organização política Sateré-Mawé para a figura do capitão. Este, por sua vez, tem como função intermediar as relações dos Satére-Mawés com os brancos, especialmente em "construir" uma ponte entre as chefias tradicionais dessa sociedade com as autoridades da sociedade nacional.  

Subsistência da comunidade

Na comunidade Satére-Mawé a subsistência baseia-se, essencialmente,  na agricultura. Dá-se destaque à plantação de guaraná e das roças de mandioca. A farinha é a base da sua alimentação, sendo também comercializada em larga escala para as suas cidades vizinhas.

Divisão sexual e etária do trabalho

O fábrico é um ciclo produtivo predominantemente masculino. No entanto,  observamos que existe uma relação entre a divisão sexual do trabalho e a divisão do trabalho por faixa etária. A sociedade Sateré-Mawé prescreve para as atividades mais simples do fábrico, isto é, que não dependem de tanta arte e experiência, mãos de variadas idades. Mas, ao tratar-se das tarefas mais sofisticadas, encontramos sempre mãos de pessoas adultas ou idosas.

O homem é o responsável pela maioria das tarefas ligadas à produção do guaraná. As mulheres só entram quando se descasca o guaraná cru e o torrado, uma vez que estas atividades são consideredas as mais simples dentro do conjunto geral do fabrico. Algumas actividades permitem a participação das meninas, mas só até à primeira menstruação porque depois elas adquirem o estatuto social de mulheres, transformando-se em esposas e mães.  A quebra de tabu ocasionada pela entrada das mulheres (que já têm família construida) no fábrico de forma tão determinada, só pode ser compreendida através dos mitos.


quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Cultura material e cosmologia

Os Sateré-Mawé possuem uma rica cultura material, sendo os tecidos a sua maior expressão.
Na cosmologia Mawé, é dada grande importância ao Porantim. Este, é uma peça de madeira com cerca de metro e meio de altura, com desenhos geométricos gravados que são recobertos com tinta branca (tabatinga). A sua forma lembra um remo trabalhado.
Esta peça possui um "leque" de atributos: é o legislador social e, frequentemente, os Maués referem-se a ela como a sua biblia. Possui poderes de entidade mágica, podendo andar sozinho para apartar desavenças e conflitos internos. Constitui, também, o suporte onde estão gravados os mitos da origem do guaraná e da guerra.

"Os filhos do Guaraná"


Paullinina Cupana

Inventores da cultura do guaraná, os Sateré-Mawé transformaram a Paullinia Cupana (trepadeira silvestre da família das Sapindáceas) num arbusto cultivado, introduzindo a sua plantação e beneficiamento. O guaraná é uma planta nativa da região das terras altas da bacia hidrográfica do rio Maués-Açu, que coincide precisamente com o território tradicional da comunidade Sateré-Mawé.

Os Maués vêem-se como os inventores da cultura dessa planta e, por isso, consideram-se os "Filhos do Guaraná".




Guaraná


O guaraná é o produto por excelência da economia Sateré-Mawé, sendo dos seus produtos comerciais o que obtém maior lucro no mercado. É possível ainda pensar que a vocação para o comércio demonstrada pelos Sateré-Mawé explique-se pela importância do guaraná na sua organização social e econômica.






O seu território e o contacto com os "brancos"

Segundo o relato dos velhos Sateré-Mawé, os seus ancestrais habitavam, em tempos imemoriais, o vasto território entre os rios Madeira e Tapajós, delimitado ao norte pelas ilhas Tupinambaranas, no rio Amazonas e, ao sul da foz do Tapajós.
No entanto, os Maués não consideram este o seu lugar de origem. Para esta comunidade o seu lugar de origem situa-se no Noçoquém, uma vez que é onde moraram os seus heróis míticos.
O primeiro contacto com os "brancos" foi na época de atuação da Companhia de Jesus. Em 1692, após terem matado alguns homens brancos, o governo declarou uma guerra justa (legal) contra eles, parcialmente evitada pelos índios, uma vez que estes foram avisados e espalharam-se, sendo que somente alguns ofereceram resistência.
A partir do contato com os brancos, e mesmo antes disso, devido a algumas guerras o território ancestral dos Sateré-Mawé foi sensivelmente reduzido. Epidemias e cruel perseguição aos grupos indígenas que com eles combatiam, devastaram enormes áreas da Amazónia, deslocando esses grupos dos seus territórios tradicionais ou reduzindo-os.